Educação
Agência Focaia
Luis Felipe Rodrigues
Com o objetivo de expressar novas formas de
comunicação, com uso dos espaços da universidade, o curso de Letras desenvolve
projeto sobre o fazer poesia, poetizando diversos temas. Através de desenhos e frases,
a disciplina Diálogo Interartes, lecionada pela professora Águeda Borges, do
curso de letras do Campus Universitário do Araguaia criou o Ação Poética,
utilizando com devida autorização da pró-reitoria, as paredes do bloco II da
unidade. As pinturas retratam ações poéticas com a intenção de provocar
sentidos e permitem diversas reflexões, como parte de interação do grupo com a
comunidade acadêmica, bem como apresentam diferenças de pensamento e, por isso,
vem gerando polêmica na universidade. O espaço também é utilizado pelos alunos
dos cursos de Engenharia Civil e Ciência da Computação para as aulas.
Foto: Águeda Borges
Alunos participantes do projeto "Ação Poética"
Os estudantes iniciaram a pintura no mês de maio deste ano e não demorou
muito para as reclamações surgirem. Após a pintura do bloco surgem discussões por
parte de estudantes do Campus Araguaia, com questionamento sobre o objetivo da
atividade de expressão em local público. No bloco foram encontradas mensagens
de racismo e intolerância. A discussão foi além dos espaços universitários, com
diversas mensagens deixadas na internet, com mensagens no facebook do curso,
dirigidas explicitamente aos alunos de Letras.
Presidente do Centro Acadêmico de Letras, o CaLetA, Ana Julia
Allucarty diz que se surpreendeu com as críticas e a intolerância após a ação
do projeto. Segundo ela “choveram” ofensas no facebook e “a partir disso nós
entramos em contato com a parte administrativa da universidade, com os
coordenadores, com os diretores dos institutos, com a pró-reitoria e com o
Diretório Central dos Estudantes (DCE) pra falar o que estava acontecendo”.
Como diz Allucarty, a partir disso “o Centro acadêmico de engenharia civil nos
procurou para esclarecimentos e queriam que pintássemos todo o bloco” (porque a
pintura estava feia e outros motivos para impedir o projeto, como entende a
presidente do C.A. de Letras.), que eles estavam insatisfeitos. Foram dados
vários motivos, que as pinturas estavam feias, depois falaram que não foram
chamados, cada hora havia um motivo diferente para barrar a nossa produção
cultural.” relata.
Cultura e Soja
Para discutir sobre os problemas que vinham acontecendo em relação a
pintura do bloco, foi realizado uma reunião entre os Centros Acadêmicos de
Letras, Computação e Civil, juntamente com o DCE e a professora coordenadora do
projeto, Águeda Borges, para discutirem as ações que poderiam ser tomadas em
relação aos atos ocorridos. Estavam presentes também na reunião o Centro
Acadêmico de Agronomia, que sentiram-se prejudicados devido ás
consequências geradas pela frase "Menos soja, + cultura".
Foto: Águeda Borges
Pintura feita no bloco gerou polêmica entre os alunos
Em entrevista, José Henrique Reginato, vice-presidente do C.A. de
Agronomia, contou que agrônomos da região se sentiram ofendidos com a
frase “Menos soja, mais cultura”. Segundo Reginato “(os agrônomos) Alegaram e
pediram para resolver esse problema na universidade, porque era uma frase que
os ofendiam e alunos de dentro da universidade que pedissem estágio não seriam
atendidos. Nós entramos em acordo com o C.A. de Letras, mediado pelo DCE e
nesse acordo foi decidido que a frase seria apagada. Não temos nada contra o
projeto, pois é uma expressão de cultura e temos que saber olhar, mais começou
a atingir o curso e nos trazer problemas”
Após as discussões envolvendo os C.A’s dos cursos que utilizam o bloco,
ficou acordado que as paredes externas com vistas para a Avenida Valdon Varjão
seriam pintadas, retornando a pintura original sem qualquer expressão visual, e
que as paredes voltadas para as partes internas da instituição continuariam com
as expressões artísticas como estão no momento.
Nessa reunião, a professora coordenadora da atividade Águeda Borges
reforçou que a proposta não tinha nenhum interesse em ofender, implementar
discursos partidários, ou divergências afins. Ela afirmou que o “interesse
seria que a ação causasse um impacto na mentalidade das pessoas e na forma de
observação dos indivíduos”, avaliou.
A professora conta que, durante a reunião, explicou a ação do projeto e
seus objetivos “Gente, dizer menos é produzir um alerta. Não estou dizendo que
acabe com a soja, e que tenha só cultura, é menos soja. Esta saturado o sentido
do advérbio “menos”, e do advérbio “mais”, que cresça a cultura, que diminua um
pouco a soja, que equilibre, considerando essa região aqui (do Mato Grosso).
Nosso intuito não era criar uma polêmica, não imaginava, eu pensei até que
teria adesão, eu fiquei bastante triste de ver estampado tanto que a reflexão
produtiva não aconteceu. Conversei com a turma (que participou da ação), nós
sentamos e refletimos sobre tudo isso. Eles leram muito pra fazer o projeto,
foi muito legal, nós criamos no grupo um objetivo, discutiu o projeto,muito com
a relação do plano de ensino”,relata.
Críticas
Em nota nas redes sociais, o Centro Acadêmico de Engenharia Civil repudiou as
atitudes preconceituosas em relação à pintura do bloco com a seguinte mensagem:
“O CAEC não somente repudia mas condena tal atitude, uma vez que uma das
propostas de Universidade é a pluralidade de opiniões, e que aqui acontece a
preparação das pessoas para a vida profissional, cujo saber é trabalhar em
grupo e se dar bem com todos, acaba sendo primordial”.
Pinturas feitas no bloco II promoveram diversas
interpretações na Universidade
interpretações na Universidade
O Centro Acadêmico do curso de Ciência da Computação, em nota na sua
página do Facebook, reiterou o respeito pelo projeto e repudiou as agressões de
alunos que utilizam o espaço em relação às pinturas realizadas no bloco e afirma
ainda que os agressores devem ser responsabilizados. “CACOMP expressa sua
repulsa a esse tipo de comportamento, esse que não é condizente a alunos de uma
Universidade. O CACOMP acredita que alunos com esse comportamento devem ser
punidos de acordo com a lei.”
Resposta
O Centro Acadêmico de Letras também divulgou nota em sua página do
Facebook para esclarecer todas as ações e os objetivos propostos pelo projeto
“O CALetA repudia a manifestação de qualquer ato de intolerância e preconceito
dentro e fora do ambiente acadêmico, e preza o respeito aos indivíduos, a
diversidade e pluralidade cultural que enriquecem a Universidade em todas as
suas áreas".
Sobre a frase " MENOS SOJA + CULTURA", o C.A. esclarece que em
nenhum momento houve a intenção de diminuir, ofender ou lesar os acadêmicos do
curso de Agronomia. Mas sim, conforme a explicação das acadêmicas que
produziram, “promover a reflexão e questionar até quando a produção agrícola
será considerada mais importante que as manifestações culturais no estado do
Mato Grosso, trazendo para o debate, consequentemente, as novas formas de
produção ecológica na agricultura”.